Liberty Osaka

Museu de Direitos Humanos

Sendo Osaka uma cidade cuja identidade essencial é a do comércio, e que se orgulha do seu bairro hiperativo e hiperconsumista de Dotonbori, é bom descobrir uma alternativa a esse registo ou, quanto mais não seja, algo que o complemente. O Liberty Osaka é, formalmente, um Museu, no entanto os ocidentais que estejam habituados a museus de arte, ciência ou antropologia não lhe chamariam um "Museu". Isto não quer dizer que seja menos-do-que-um-museu, antes pelo contrário! Este espaço é uma surpresa muito estimulante, e redefine as nossas ideias do que um museu é.

Para mim, que já procurava visitá-lo há vários anos, foi ainda melhor do que o esperado. O Liberty Osaka é um local que pode (e eu diria, deve) visitar com toda a família na sua passagem pelo Japão. Se quer conhecer o Japão das gueixas, do anime, e dos samurais, não deixe de condimentar esse mundo escapista com a dose certa de realidade, especialmente desta realidade. Venha com tempo, e se puder trazer um amigo fluente em japonês ainda melhor. Contudo, o Museu dispõe de um audioguia em inglês que é gratuito (mas não cobre 100% da exposição).

O Liberty Osaka localiza-se num bairro muito sossegado e residencial, e não se faz anunciar de modo chamativo, por isso é fácil passar despercebido. A melhor maneira de chegar é através da Loop Line do comboio da JR de Osaka. Se tem Japan Rail Pass e vem da estação de Osaka, apanhe a linha 1 ou 2 e saia em Ashiharabashi. Se pode/quer usar outra linha que não seja da JR, pode também sair em Imamiya. (Ver Mapa)

A entrada custa 500 ienes (menos de 5 euros) e dá-lhe direito a passar tanto tempo quanto quiser no Museu, a ver os vídeos nas salas de testemunhos, e a usar o audioguia em inglês. O audioguia não precisa de ser pressionado durante a visita. Existem sensores no próprio aparelho que "lêem" a zona da sala onde se encontra e emitem a explicação correspondente. O edifício dispõe de casas de banho e zona de repouso, é climatizado e tem uma pequena loja.

A missão deste museu é muito vasta, mas faz muito bem o seu trabalho. Ao longo das várias salas vão-se sucedendo assuntos de enorme impacto social e que são quase todos tabu no Japão. São assuntos considerados "sujos", "escandalosos" ou simplesmente "complexos" e que causam desconforto e por vezes mesmo represálias quando são tratados nas notícias da TV ou jornais. Alguns destes assuntos ainda estão banidos de programas escolares e seguramente não são aceites em conversas de amigos por ocasião de eventos sociais. A ancestral tradição nipónica de não afrontar, não insistir, não rebelionar, leva a que muitos dos assuntos aqui tratados contem apenas com o apoio de alguns grupos políticos (designadamente o partido comunista) ou pequenas células de movimentos de cidadãos independentes (com mero propósito humanitário). O Museu é por isso uma enormíssima manifestação de força de vontade, e um extraordinário exercício de cidadania. Existem muitos recursos pedagógicos, a pensar em professores e outros educadores, embora sejam todos em japonês.

Alguns dos assuntos tratados:

  • Discriminação para com castas inferiores da sociedade japonesa, nomeadamente os "buraku", que perduram até aos dias de hoje;
  • Casos de severos danos na saúde física e psicológica de populações de vilas inteiras causadas por violações da conduta ecológica por parte de empresas de grande peso económico;
  • Bullying e consequente suicídio de crianças e jovens, exemplificando o deficiente cuidado que lhes é dado por instituições e indivíduos (adultos);
  • História do povo Ainu, que foi colonizado, vítima de várias campanhas de erradicação de identidade cultural, e ainda hoje enfrente muitos problemas dentro do Japão;
  • Etc.

Como vê, este Museu é essencial para ter uma visão completa do Japão contemporâneo e da sua história recente. Se está por Osaka não deixe de o visitar. Depois, se quiser animar-se um bocado, pode caminhar 20 minutos até Nanba e sentir o ambiente vibrante daquela zona, com milhares de pessoas na rua, restaurantes e lojas por todo o lado, e mais à frente o inconfundível Glico-Man. Mas, no fundo, já saberá o preço que custou a pagar pelo desenvolvimento económico e social, e que o Japão - como qualquer outro país - tem dois lados muito distintos na mesma moeda.

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